Considerações sobre o futebol brasileiro
O equilíbrio de forças é tanto que o Paraná Clube, um dos times que mais ocupou o "G-4", hoje ocupa a décima posição, a apenas um ponto de distância do quarto colocado, o Vasco.
Como não esperar esse equilíbrio?
Atuam no exterior, aproximadamente cinco mil (5.000) jogadores brasileiros. Só no ano passado, saíram para atuar fora do país, o impressionante número de 851 atletas.
O que esses números realmente representam?
A constatação em tela indica que fora do país hoje estão 166 elencos de trinta jogadores cada, ou seja, mais do que OITO DIVISÕES INTEIRAS DE JOGADORES BRASILEIROS.
Tal fato acarreta na infeliz verificação de que os melhores jogadores nacionais realmente não estão atuando no futebol brasileiro, embora ainda por aqui atuem alguns raros atletas de qualidade.
Como reflexo temos um campeonato nacional sucateado, nivelado por baixo, onde atletas de quinta ou inferior categoria acabam sendo titulares de agremiações tradicionais, as quais não conseguem montar elencos que honrem sua história, desagradando a torcida como um todo.
Considerando que o advento do condicionamento físico "equiparou" os atletas, a verdade, por mais infeliz que seja, leva a considerarmos que:
a) A reposição desordenada de "peças", motivada por interesses financeiros faz com que jovens revelações sejam indevidamente submetidos, precocemente, à tensões e responsabilidades para as quais ainda não estão preparados; logo, muitos potenciais são "queimados" pela cobrança implacável de torcedores que viam seus ídolos de outrora passando várias temporadas com a mesma camisa;
b) Existe uma "europeízação" da forma com que o brasileiro joga, o que acarreta na "morte" do drible, o que pode levar a, em curto ou médio prazo, um padrão global de jogo, uma vez que, como saem cada vez mais cedo, os jovens talentos passam a ser "doutrinados" pelos clubes de fora a atuar mais taticamente, inibindo, cerceando assim a genialidade, a imprevisibilidade do atleta;
c) A constatação de que hoje os times não tem mais "escolas". A legislação atual compromete o investimento em categorias de base, arrendando as agremiações seus espaços a parceiros mais interessados em ganhos pessoais do que no trabalho da entidade. Antigamente, técnicos e preparadores ficavam anos no clube, preparavam os atletas e seus sucessores dentro de uma linha, uma conduta, um padrão de jogo, que diferenciava os times. A "escola" hoje é aquela determinada pelo grupo de empresários ou pelo técnico da vez.
Além destas várias outras considerações podem ser tecidas, no entanto, iremos invadir um terreno nebuloso e não muito agradável, afinal, quanto mais fundo entrarmos no tema, mais iremos nos deparar com irregularidades, negociatas, enfim, com a índole mercantil que passou a nortear o esporte bretão não apenas no país como no globo.
No país vemos atuando por times outrora grandes, atletas que sequer estão "prontos" como jogadores; basta acompanhar qualquer confronto que poderá ser visto um festival de erros de passe, falhas na marcação, no posicionamento, cruzamentos bisonhos e finalizações inacreditáveis.
Outro ponto a ser levantado é o desaparecimento de jogadores em determinadas posições. Hoje não mais encontramos "meia-armadores", mas muitos "meia-atacantes", mais facilmente negociados; nessa senda ainda podemos salientar que os laterais "puros" estão escassos, até porque atualmente, os "meias" menos incisivos, acabam atuando como alas.
Descaracterizam-se assim grandes qualidades do futebol nacional, afinal, o Brasil sempre se caracterizou pelos excelentes armadores e pelos laterais tanto habilidosos como combativos. O maior reflexo dessa "nova ordem" se vê na seleção nacional, cujo "meio", na última Copa América, foi composto por quatro volantes.
O futebol nacional de clubes assolado pelos efeitos supra-elencados, resume-se, infelizmente, à participação de veteranos (que pela falta de qualidade prolongam suas carreiras), "excomungados", retornados, "defenestrados", jovens despreparados, torcedores desiludidos e, fora das quatro linhas, uma gama de profissionais (árbitros, técnicos, dirigentes, membros de comissão e inclusive agentes de imprensa), que não têm qualidade necessária.
Façamos um exercício para comprovar o exposto: Imagine uma seleção nacional composta com jogadores em atividade hoje no Brasil. A seleção que o amigo leitor fez, poderia, há uns dez anos atrás, caso estivesse disputando o campeonato por um time, estar disputando vaga para a Libertadores?
Fiz esse exercício com amigos e, por unanimidade, foram taxativos em questionar a qualidade dessa "seleção atual".
Vamos além? Dos titulares dos times nacionais hoje, salvo Ceni pelo São Paulo, quais outros estariam dentre os "melhores jogadores" da história de suas agremiações?
Essa é a nossa triste realidade. Situação lastimável que vive o futebol nacional. Caso não se consiga criar uma liga forte aqui, não conseguiremos fazer com que nossos craques, ou ao menos os jogadores medianos, regressem, e assim, que nossos times voltem a ser grandes ou que apresentem algo próximo com o futebol que consagramos pelo mundo.
Enquanto resignados e passivamente aguardamos a extinção de nossos craques, como a vida segue, procedo com os jogos que ocorrerão pela 16ª rodada do nacional.
Quarta-feira, 01 de agosto: Às 19h30 jogam Náutico-PE e Fluminense nos "Aflitos" em Recife e o embate do Goiás com o Paraná Clube no Serra Dourada em Goiânia; às 20h30 teremos Botafogo e América-RN no Engenheiro Araripe em Cariacica e o jogo do Palmeiras com o Sport no Parque Antarctica em São Paulo; às 21h45 enfrentam-se Atlético-PR e Corinthians na Arena da Baixada em Curitiba; Atlético-MG e Santos no Mineirão em Belo Horizonte e ainda Internacional e Vasco no Beira-Rio em Porto Alegre.
Quinta-feira, 02 de agosto: Às 20h30 jogarão Figueirense e Grêmio no Orlando Scarpelli em Florianópolis e São Paulo e Juventude no Morumbi em São Paulo.