Terça-feira, dia 30 de outubro de 2007. Guardem essa data, afinal, a mesma será, infelizmente lembrada, por ser o marco inicial da institucionalização do “oba-oba” neste país até o ano de 2014 e poderá ser tida como um “divisor de águas” da sociedade brasileira.
Como se diria antigamente, a eleição “foi uma barbada”; afinal, o Brasil não concorria com ninguém. Com o “rodízio” entre os continentes, a África do Sul sediará a Copa em 2010 e após essa, nosso país terá a honra e a responsabilidade de, novamente, recebê-la. Convém recordar que o Brasil é, paradoxalmente, a única “potência do futebol mundial” a nunca ter vencido uma Copa Mundial nos seus domínios.
Alguns até questionam a forma como os “anfitriões” teriam vencido em 1966 e 1978, no entanto, o fato é que o Brasil, maior vencedor de mundiais, não venceu ainda uma copa na frente de seus torcedores que tampouco viram sua seleção trazer para casa um ouro olímpico.
A escolha do Brasil (candidato único após a desistência da Colômbia), foi anunciada com ressalvas por Joseph Blatter, presidente da FIFA, alentando que o país deverá promover a mesma com responsabilidade. O episódio da apresentação do “vencedor”, mais parecia um sermão dado por um tio-avô a um garoto desobediente e mal-educado.
Lulla, Teixeira e seu “clero” lá estavam. Comemorando felizes uma vitória por W.O., sendo que o “desistente” enfrenta diuturnamente problemas gravíssimos com a guerra civil nesse país instaurada, tendo parte do seu território sob o domínio das FARCs.
A falta de opções da FIFA fez com que a entidade suspendesse a regra do “rodízio de continentes”, sendo a Copa do Mundo de 2018 conferida à quem pagar mais, digo, a quem apresentar melhores condições.
Claro que essa foi uma desculpa sensacional e adequada da entidade para buscar mais parceiros comerciais. Afinal, uma regra que visava a integração entre os povos, que permitia chances a todos os continentes em sediar o maior evento desse esporte, regra mantida por quase cem anos e que atravessou duas guerras mundiais, apenas seria derrubada por questões comerciais quando a “desculpa” não fosse tão visível.
Para o mundo, a “justificativa da FIFA” foi: “vejam, temos que acabar com o rodízio, afinal, se o Brasil, que nem condições de dar emprego, moradia e educação, teve que ser escolhido, pela falta de opção”...
Lavou as mãos Blatter e assim parte para uma nova etapa na entidade, a do “potencial político e financeiro”.
Lembro-me que, de quando era criança, num mundo onde as transmissões “via satélite” eram raras e onde as casas sequer tinham computadores. Nessa época, as Copas do Mundo eram “agendadas” com quatro anos no máximo de distância. Hoje, num mundo globalizado e onde a internet é uma necessidade, já em 2007, sabemos onde a Copa de 2014 será realizada. Alguém se perguntou por quê?
Infelizmente há tempos me desiludi com o ser humano; aliás, não apenas com ele. A sociedade hoje está composta por aproveitadores que posam de populistas e que se utilizam de empresas de marketing para vender aos cidadãos, a idéia de algo que não são. Mas tem gente que compra tal idéia.
E a Fifa precisa de gente assim, de políticos que “tenham conhecidos” e que representem eventuais parceiros, investidores. Gente que busca comprar credibilidade, apoio, e mais poder. Ora, qual a serventia de termos já em 2007 a resposta da sede de 2014 se não a de “movimentar” especulações políticas, “comprar e vender” favores e interesses? O “clero” da Fifa será sustentado por esses interesseiros e que lugar melhor para fazer a transição entre a forma antiga de se fazer mundiais (com amparo na corrupção de políticos e desvio de valores públicos) e a forma nova (onde quem pagar mais ganha) do que o Brasil?
A escolha do Brasil foi realmente emblemática, cheia de simbologias.
O Financial Times anunciou que o Brasil é o país da “precariedade e da corrupção”. Assim somos vistos lá fora.
Alguém se surpreendeu com o fato? E com a reiterada passividade, permissividade do povo brasileiro aliás, alguém ainda se surpreende? Como pudemos permitir que a corrupção se tornasse prática aceitável, banalizando princípios morais da sociedade?
Assim somos nós, esse é o Brasil; estado que, a partir de agora terá reflexos diretos da administração do futebol, afinal, Ricardo Teixeira posa hoje como estadista, tendo ele e o “cordão que o segue”, a chancela de celebridades, políticos e oportunistas para “tocar a Copa”.
Como pode Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol há quase duas décadas, que disse recentemente (numa clara confissão de incompetência), que o Maracanã e o Morumbi, dois dos maiores palcos de futebol no país, não estariam aptos para sediar jogos de copa do mundo. Como os dois maiores estádios nacionais não teriam tais condições? Seria por falha, negligência ou imperícia de sua gestão como dirigente?
Com tal assertiva, Teixeira lançou-se pelo país atrás de apoio político e iniciou uma barganha de facilidades e favores. Assim, o “clero” futebolístico de federações e respectivos governadores dessas federações ganharam condição de estadistas e o país, que é um exemplo social para o mundo, lançar-se-á, numa tola investida para organizar um evento desse porte.
Mas dinheiro será necessário. E de onde virá? Não pense o amigo que de investimentos privados. Temos o exemplo do Pan do Rio de Janeiro. Nuzman (o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro), anos antes do evento, garantiu que não haveria “dinheiro público” e que todos os recursos viriam de entes privados. No entanto, às vésperas dos jogos, com muita coisa ainda por ser feita, o Governo Nacional, o Governo do Estado do Rio Janeiro e a administração da municipalidade sede, abriram os cofres, bancando a conta que dirigentes esportivos e políticos apresentaram, sob a justificativa de que, caso isso não ocorresse, os mesmos não ocorreriam e seria uma “vergonha nacional”.
Esses dirigentes e políticos conseguiram transmitir ao país a vergonha de não terem sido capazes de organizar o evento e de ir atrás das parcerias necessárias e suficientes. Assim, o “nosso pan” viu seu orçamento inicial de U$ 200.000.000,00 superar a inacreditável marca de U$ 3.800.000.000,00, tornando-se o evento mais caro da história.
Alguém sabe se os responsáveis foram sequer responsabilizados. Naquela oportunidade deveria o Sr. Presidente ter condenado Nuzman e os políticos envolvidos à execração pública, à vergonha, que agora, assumimos, nas mãos do nosso representante mor do executivo.
Quantas coisas poderiam ter sido feita com o dinheiro absurda e literalmente “desviado”.
Vejam só, amigos como é importante que as capitais estaduais sediem ao menos um jogo da Copa de 2014. Junto com Lulla (aquele que liberou, sem previsão orçamentária e fiscalização, valores para o Pan, que não sabia de nada do que ocorria no planalto, nem dos atos de seu eterno companheiro, José Dirceu), onze governadores, de dezoito unidades federativas nacionais, lá estavam. E viajaram com suas comitivas custeados por quem, por empresas parceiras?
Se nem buscamos a reparação das coisas grandes, imaginem se iremos nos preocupar com algumas passagens, jantares e mordomias.
Façamos um breve exercício matemático. Somem tudo o que fora indevidamente gasto no Pan com tudo o que será “jogado fora” nas tratativas, jantares, estadias, viagens, etc.., com todas as comitivas até 2014. Quanto teremos cada um de nós pago por isso?
A pomposa delegação, presidida pela maior autoridade nacional, será aclamada, publicamente por aquele que, como não tem pão, precisam do “circo”, e esse fato será o marco inicial do que, infelizmente, se configurará na maior farra de capital público vista neste país.
Multipliquem a “farra do Pan” pelo número de sedes eventualmente envolvidas e terão uma idéia não apenas dos montantes envolvidos, como também do perigo do desvio desses recursos no nosso país.
E o pior é que esses “notáveis” farão o discurso da precariedade para obter mais recursos públicos. Dirão que nada do que está aí funciona e se limitarão, na hora de efetivar seus projetos, a fazer uma plástica em algumas ruas, acessos, estádios. Irão vender a dificuldade para receber sobre a ilusão ótica que o “resultado visível” trará.
Infelizmente, amigos, não falo do resultado de um exercício de ficção, de um lugar imaginário, sem lei, nem responsabilidades ou compromissos; comento fatos visíveis a todos aqueles que deveriam se preocupar com o que ocorre.
A corrupção é uma instituição oficializada e amparada por políticos e dirigentes esportivos. Com a decisão da FIFA em “lavar as mãos” e permitir uma Copa no Brasil, “cartolas” passarão a ser tratadas como “autoridades”; serão cortejados como fúteis donzelas por quem representa ou personifica os “poderes interessados”, privados ou públicos.
E, nessa história, esses irão adorar cada instante de eventual burlanesca investida! Mais até do que o afago ao ego causado pelos holofotes e pelo que o “poder” permite. Venceram por vias tortas, no país da permissividade, da apatia e do descomprometimento social.
Seriam os infelizes cidadãos desse lugar, reféns da constatação da precariedade de sua sociedade, para tais fatos permitirem? Confessariam, perante o planeta, de que ainda não seriam uma nação que ofereça ao menos dignidade à sua população e que, por isso, permitem, até por omissão da própria sociedade, que aproveitadores se perpetuem no poder, juntamente com seus agregados?
Podemos entrar na contagiante festa do ufanismo burro e assistir à dilapidação do pouco que conseguimos ser como sociedade ou, até por termos eleições nos próximos anos, enfim, entendermos que, como sociedade, o Estado nos deve respeito e obediência e assim, buscar a conscientização dos iguais, fazendo a respectiva e cabível “mea-culpa”, livrando-nos dos grilhões que a inércia social nos colocou, tentando não sermos mais reféns aquilo que permitimos, se tornasse nossa sociedade.
Caso nada nos dignemos a fazer, nossas autoridades serão governadas, direta ou indiretamente pelos cartolas, agora poderosos. Nossa omissão daqui para a frente terá como conseqüência a absorção de máximas “cartolescas” por políticos e pela população, passando a ser o futebol fonte de maus exemplos, quando deveria levar à sociedade mostras reais de que, com dedicação, entrega, disciplina, companheirismo, retidão e respeito, se faz um caráter; com alguns destes, um time, um clube, uma entidade, uma torcida..
Alguns dirão que exagero. Talvez... Olvido-me que vivo num lugar maravilhoso, perfeito, onde todos tem acesso à saúde, emprego, habitação; onde os políticos são os verdadeiros representantes dos anseios populares e onde o esporte é apenas um belo meio de inclusão social.
Esqueço até que neste país os sanguessugas são verdadeiras “lendas urbanas”, afinal, não existem, jamais foram vistos. Nem me recordo que “nosso comandante”, de tão honesto, nada sabia de atos reprováveis cometidos por amigos de toda uma vida; coitado, como falar mal de um homem que apenas soube arranjar emprego e parcerias milionárias para seu filho.
Talvez isso mudasse se todos soubessem que a nossa federação nacional de futebol, a CBF, detentora do que deveria ser a maior referência de futebol no planeta, arrecada, com a seleção “canarinho”, cinco vezes campeã mundial, por ano, sete vezes a menos que a federação francesa, apenas uma vez campeã. Isso é competência ou a entidade já tem como “oficial” a não divulgação correta do volume financeiro que movimenta?
Alguns se perguntariam se a federação-mor não estaria informando ao governo o recebimento de valores menores que os efetivamente percebidos, num intuito de com isso, recolher menos impostos.
Como podemos conviver com levianos que acreditam que todos são corruptos? Lamentável. A CBF é um exemplo de organização. Recentemente não acolheu proposta de uma emissora pela exclusividade na transmissão do campeonato nacional de futebol em atenção a uma velha parceria com outro canal televisivo. Como podemos acreditar que seus dirigentes tenham interesses escusos se os mesmos se furtaram a receber mais pela concessão?
Até quando nossa sociedade permitirá que coisas como essas ocorram? É hora de exigirmos e fiscalizarmos nossos dirigentes, políticos e de entidades esportivas. Temos que aprender com os erros do passado e não mais tratar essa corja como um pai rico atende a um filho pródigo.
Ficam algumas certezas, dentre elas a de que, nada infelizmente será feito. Seremos mais permissivos ainda, afinal, quanto maior a impunidade, mais se aventuram seus adeptos a “correr os riscos”.
Ou podemos mudar isso nas eleições municipais, estaduais e presidenciais. Não reelegendo essa corja que hoje ocupa o poder e que se sente “dona” do pedaço de terra que representa mas que se exime das responsabilidades inerentes.
Os reles torcedores podem também começar a buscar melhores dirigentes de seus clubes, afinal, esses elegem os representantes das federações estaduais.
Torcedores e cidadãos devem zelar e exigir a transparência nos atos administrativos. Devem cobrar que, um ato somente seja realizado desde que exista previsão monetária adequada.
Já que a Copa de 2014 será realizada no Brasil, façamos nós, os cidadãos a mesma, que busquemos nos sete anos até o evento, dar ao país um Estado limpo, com representantes engajados e sem passado de corrupção. Que vejamos a mobilização do povo para, enfim, termos uma nação, de forma com que, para o mundo o Brasil seja reconhecido por seus craques em campo e pela sua sociedade, nas ruas, e não mais por mulatas, samba, personagem fantasiados de verde e amarelo, ébrios de corrupção e desesperançosos.
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