Dois times em situação muito parecidas se enfrentaram neste domingo pelo campeonato brasileiro de Futebol. A proximidade entre ambos era tanta que o Paraná Clube, visitante, caso vencesse, superaria o rubro-negro pernambucano na classificação.
O discurso das duas comissões técnicas era o da "busca pela vitória"; no entanto, para que a mesma ocorresse, esta deveria ter sido buscada por ambas, o que não ocorreu.
O Sport (que usualmente atua no 3-5-2, formação preferida por seu treinador Geninho) face a desfalque no setor defensivo e por necessitar dos três pontos, assumiu um 4-4-2 que, se por um lado fragilizava o primeiro combate, por outro, permitia a ligação rápida com os atacantes.
Do lado curitibano Lori Sandri já na escalação condenou o time a não vencer. Sem poder contar com Josiel, o artilheiro do certame, Sandri, temeroso pela derrota, "armou" sua equipe para atuar num 3-6-1 (que na verdade era um 3-7-0, uma vez que Lima é um ponta-de-lança e, embora ofensivo, tem como característa pessoal a criação de espaços para que um "matador" os aproveite), sem ter escalado dentre os onze iniciais alguém incumbico de finalizar.
A diferença de postura dos treinadores foi determinante para o resultado da Partida. Sandri, a exemplo de Geninho, tinha dois dos seus três defensores titulares no departamento médico (Nem e Luís Henrique), mas, mesmo assim, e precisando da vitória, preferiu compor sua zaga com dois suplentes, promovendo o retorno do volante e capitão Beto ao time, abdicando da ofensividade.
Quem esperava (pela situação das equipes) um jogo franco, viu-se frustrado pela postura adotada pelo Paraná Clube, ainda mais com o gol contra tricolor, resultante de bola alçada na área (anotado para Romerito), precocemente levado aos 2 minutos da etapa inicial.
O gol não abalou o ânimo paranista mas, no entanto, sepultou já de início o que Sandri havia "planejado". A escalação adotada demonstrava que o time de Curitiba tinha ido para se defender e esperar que, numa bola parada, "algo acontecesse", o que defato ocorreu, para o outro lado.
Com o placar em desvantagem, o Paraná Clube tardou menos de quinze minutos para assumir o controle territorial da faixa entre as intermediárias, no entanto, sem um avante na área, as jogadas ofensivas tricolores resumiam-se a toques laterais que atravessavam a área, sem que nenhum jogador ficasse dentro da mesma. Assim, o Paraná limitava-se a chutar de longe sem ter nenhum jogador que pudesse, ao menos, aproveitar um rebote.
Se o controle entre as intermediárias era paranista, dentro das duas áreas a supremacia era rubro-negra. Sem um avante que "incomodasse" dentro da área, os defensores pernambucanos não eram pressionados e, do outro lado, com dois atacantes perigosos (para o atual nível do futebol nacional), o Sport aproveitava os espaços dados pelo oponente, em tarde não muito feliz, individualmente dos defensores do time de Curitiba, que sequer ficava com a "segunda bola" tanto ofensiva como defensivamente.
Assim, o que se via era o Paraná com a posse de bola mas, como não conseguia finalizar pela falta de referência na frente, insistente e recorrentemente perdia a mesma e, como avançava desordenadamente com cinco dos homens de meio campo em linha (e, também pelos espaços deixados nas irresponsáveis "aventuras" ofensivas de Daniel Marques), sofria os contra-ataques. Num desses, aos 41minutos do primeiro tempo o atacante Da Silva ampliou a vantagem para os mandantes.
Embora a opção tática de Sandri tenha caído por terra aos dois minutos de partida, o mesmo preferiu não alterar a equipe até o intervalo; no entanto, nessa oportunidade, sua equipe já perdia por dois tentos a zero. Vendo que nada mais tinha a afazer, o técnico paranista modificou o esquema de jogo de sua equipe, sacando o "homem de sobra" Toninho, colocando Vinícius Pacheco, jogador com características similares às de Lima, não sendo tampouco uma referência de área.
Mesmo assim, com Lima abrindo espaços, Vina Pacheco investia nas diagonais e, carregando a bola, criou algumas boas oportunidades, não convertidas, exatamente pela falta de um artilheiro.
De forma estéril, Pacheco assumiu a ofensividade paranista até o momento em que Lima, prejudicado pela opção de jogo do treinador, foi substituído por Jéfferson, "prata da casa" com muito potencial, mas que precisa de pouco polimento, alguma orientação e ritmo de jogo.
Como o futebol premia a inteligêngia e objetividade, Jeff, no seu primeiro toque na bola, mandou a mesma à rede adversária após escanteio cobrado por Araújo aos 31min da etapa complementar.
Apenas faz gol quem cria condições para tal. Se a tática está direcionada para a criação de jogadas, deve haver a previsão coerente de que alguém deve ser o encarregado de concluir as mesmas. Um homem de área, uma referência no ataque não apenas "segura" os defensores como permite a movimentação de todo o sistema ofensivo. O gol de Jeff foi a prova cabal ao comandante paranista de como se deve armar uma equipe. Estava aí a confirmação de que o Paraná estava refém de um sistema medroso, covarde, que buscava a não-derrota, não importando isso necessariamente na busca pela vitória.
No segundo lance de Jeff, o mesmo deu uma "caneta" no defensor pernambucano dentro da área e rolou para a esquerda visando o arremate, posteriormente desperdiçado. Provado estava que o futebol se joga para a frente, ainda mais num campeonato de "pontos não perdidos".
No entanto, essa melhora dos visitantes fez com que seus volantes, por vontade própria, subissem e deixassem de efetuar as coberturas como deveriam. Os espaços deixados ao Sport gratuitamente após a entrada de Jeff eram resultado da falta de comprometimento de Beto, Muçamba e Daniel Marques.
Aproveitando esses deslizes individuais (e não decorrentes da alteração tática) o Sport deu números finais à partida aos 40min com Carlinhos Bala completando passe de Luisinho Netto. Bala, após o gol, saiu cantando, nada humildemente o "parabéns para mim!"
Jogo finalizado, Geninho deve ter aprendido que a melhor defesa é o ataque e que este apenas se faz com avantes. O Sport tem hoje 36 pontos na classificação e o Paraná voltou para a zona do rebaixamento, estando na 17ª posição com 31 pontos.
Na próxima rodada as duas equipes disputarão clássicos locais; o Sport enfrentará o Náutico, no domingo, às 16h, no estádio dos Aflitos e, nesse mesmo dia, o Paraná visitará o Atlético local às 18h10, em jogo onde o torcedor paranista espera reeditar a vitória do último confronto na Arena; para isso, Sandri precisa assimilar que a vitória resulta de gols, feitos por atacantes e que a melhor defesa é o ataque.
FICHA DO JOGO
SPORT: Magrão, Luisinho Netto, César, Durval e Dutra; Ticão, Everton, Romerito (Júnior Maranhão) e Rosembrick (Adriano Gabiru); Carlinhos Bala e Da Silva (Jadilson). Técnico: Geninho.
PARANÁ: Gabriel, Daniel Marques, João Paulo e Toninho (Vinícius Pacheco); Araújo, Beto, Rafael Muçamba, Batista (Giulliano), Everton e Paulo Rodrigues; Lima (Jefferson). Técnico: Lori Sandri.
Local: estádio Ilha do Retiro, em Recife (PE).
Árbitro: Emerson Batista da Silva (PB).
Auxiliares: Milton Otaviano dos Santos (FIFA-RN) e Fabricio Vilarinho da Silva (GO).
Cartões amarelos: Araújo (P), Luisinho Netto (S), Beto (P), Daniel Marques (P) e Jadilson (S).
Gols: Romerito, aos 2min, e Da Silva, aos 41min do primeiro tempo; Jefferson, aos 31min, e Carlinhos Bala, aos 40min do segundo tempo.