sábado, 9 de junho de 2007

Um jogo como os de antigamente



(Fonte da foto: www.globo.com)

Noventa minutos emocionantes. Assim entrou para a história o belo confronto entre o Náutico e o Paraná Clube em partida válida pela quinta rodada do campeonato nacional. Assim como nas outras duas vezes que se enfrentaram, o "duelo" também acabou em igualdade; no entanto esta, com placar de "4 a 4", foi a melhor partida entre os times.

O Paraná Clube entra em campo avassalador. A opção de Pintado em escalar três atacantes surpreendeu e deixou sem reação todo o sistema defensivo do Náutico. Em menos de vinte minutos o time paranaense já tinha marcado três gols, o primeiro em belo chute de fora da área de Neguette, aos 10´; o segundo ocorreu após excelente contra-ataque onde, aos 12´, Josiel, dentro da área, demonstra outros predicados e passa precisamente para a finalização de Vandinho e o terceiro, aos 16´, em jogada lateral finalizada de cabeça pelo artilheiro Josiel.

O Náutico, entregue, passou a ser vaiado e abaixou a cabeça esperando o golpe fatal. O Paraná Clube jogava com qualidade explorando a falha do adversário, atuando com o sentimento adquirido na Copa Libertadores, até que, ao ver o desinteresse do oponente, o tricolor abdicou do confronto e permitiu que Marcel, num rebote dentro da área aos 28´da etapa inicial, marcasse.

O gol devolteu parte da vontade dos mandantes que seguiram, ainda timidamente, buscando fortuitamente, outro tento. Nem a saída de Marcel, contundido, para o ingresso de Marcelinho, abalou o grupo e assim, nessas condições, os jogadores paranistas seguiram levando pressão.

O jogo mudou! Carregado pela torcida, o mandante, que apenas tinha sido derrotado em casa uma vez no ano, "saiu" em busca do que seria o empate.

Algo da tolerância paranista se deu em parte porque, no sistema adotado por Pintado (com três pontas-de-lança), a transição central (e consequentemente a cobertura na "volta") são comprometidas e o contra-ataque (arma utilizada o jogo inteiro pelo tricolor) favorecido. O "hiato" na meia cancha no entanto, não deveria ser um problema desde que os jogadores auxiliassem nas respectivas coberturas. Nessa hora, o Paraná era vitimado pela carência na responsabilidade da criação das jogadas, já que o contra-ataque não mais era surpresa e o oponente pressionava. O sentimento de "jogo ganho" deu lugar à preocupação em manter o resultado diante de um time limitado mas que foi em busca do resultado. Sofrendo certa pressão, otricolor segurou o empate até o final da primeira etapa.

Findo o intervalo o Náutico seguia atacando desordenadamente, demonstrando a flagrante falta de fundamentos por alguns atletas, até que permitiram, quase que passivamente, que o Náutico, aos 2´ da etapa final, fizesse o segundo tento com Felipe. Pintado então, entendeu finalmente que deveria agir e colocou Éwerton no lugar de Vina Pacheco; a substituição fez com que o visitante encontrasse o equilíbrio e passasse a comandar o jogo novamente.

Sobralense, que entrou no lugar de Wágner Rosa, decide ser um belo anfitrião e entrega a bola para Josiel que, em avanço rápido pela esquerda, aos 13´ da etapa complementar, marcou seu sétimo gol em cinco jogos.

Novamente vaias são ouvidas e o Náutico cai de produção sem o apoio de sua torcida. Com o garoto Éwerton em campo, o tricolor sobra e, após o quarto gol, comandou o jogo com autoridade por aproximadamente vinte minutos, não tendo relaxado como na primeira etapa. Os alvi-rubros viam um time atuando como líder (que era naquela oportunidade) utilizando-se de um esquema tático equilibrado distintamente da escalação inicial, que previa apenas uma "forma de jogo".

O Paraná ia administrando o placar até que Daniel Marques (uma considerável liderança no elenco mas que recentemente não vem tendo nenhum compromisso tático) inexplicavelmente intercepta com o braço uma bola alçada na área, decidindo fazer que um jogo "nas mãos" do seu time passasse a ser uma "batalha dos aflitos" para ambas agremiações.

Pênalti marcado, convertido por Acosta aos 36´. Após esse gol, o estádio veio abaixo e mais uma vez, o mandante saiu para buscar o jogo apoiado pela torcida. O Paraná, surpreso com a reação inesperada por um time que tinha aceito seu melhor jogo, viu o mesmo Acosta, após bela jogada aos 39´, empatar o confronto.

Com Lima já no lugar de Vandinho, o tricolor após o sufoco, protagonizou com o Náutico um duelo franco, onde a vontade alvi-rubra era o diferencial. O jogo manteve-se parelho e aguerrido mesmo após a expulsão de Acosta, tendo sido o empate, garantido pela entrada mais um zagueiro (João Paulo no lugar de Josiel), tendo o Paraná, que buscou a vitória desde o início, assumido o empate como "meta".

Algumas considerações devem ser feitas: O Náutico não pode apenas contar com seu estádio e torcida, precisando de reforços e melhor padrão tático e o Paraná, um time com experiência de Libertadores não pode permitir que seus atletas tenham "surtos de desinteresse".

Gusmão deve agradecer o resultado ao acaso. O Paraná ganhou e devolveu o jogo ao Náutico... muito mais pelo desinteresse de alguns jogadores do que por questões diretamente decorrentes de opções táticas.

Pintado pode ser questionado por não ter "equilibrado" o time já no início do jogo, quando o resultado lhe era favorável; pode até ser criticado pela retirada de Josiel para o ingresso de mais um zagueiro, mas não lhe pode ser apresentada a conta do "crime" cometido por Daniel Marques, que botou, deliberadamente a mão numa bola alçada na área, nem na apatia de meia-cancha e avantes na marcação, nas "voltas", nas "coberturas".

O Paraná sucumbiu a si mesmo. Pintado, em entrevista ao final do jogo, disse que o empate teve sabor de derrota. Pura verdade. por seus lapsos, o tricolor, que não soube aproveitar as condições favoráveis dadas pelo Náutico, volta com um empate para Curitiba, deixando escapar a liderança, caindo para o terceiro lugar na classificação.

Que fiquem as lições:

1 - O esquema tático deve ser adequado à proposta e às situações do jogo. Para isso, os atletas devem estar preparados para desempenhar as funções solicitadas com o devido comprometimento com as orientações da comissão. A escalação de Pintado era eficaz no início no jogo, tendo surpreendido o próprio oponente. Quando o jogo "mudou", tal opção tornou-se lesiva podendo ter sido resolvida, como foi (embora tardiamente), com a entrada de Éwerton que, em campo, no lugar de um dos três atacantes, deu mais equilíbrio ao padrão tático tricolor.

2 - Jogadores experientes, importantes para o elenco sobre o qual exercem alguma liderança não podem perder o interesse pelo jogo, e logo, não podem cometer falhas bisonhas.

3 - Os atacantes e os meias ofensivos do tricolor estão atuando bem mas carecem de um sistema defensivo mais sólido, seguro, confiável. Um time com pretensões sérias no brasileirão não pode sofrer quatro gols num jogo nem ceder o empate estando em ampla vantagem e com o domínio da partida, ainda mais fora de casa. O ato impensado de Daniel Marques foi o estopim para que o mandante voltasse a "entrar" no jogo.

4 - O Náutico precisa de reforços e não de jogadores do mesmo nível. Mesmo com as transações em andamento, o time necessita de atletas prontos, e que dominem, ao menos, os fundamentos inerentes às suas funções.

Num campeonato de pontos corridos o empate sempre é ruim; no entanto, pelo que ocorreu nesse, certamente, outra "batalha dos aflitos", o Náutico sai com o empate após estar perdendo por 3 a 0 e depois por 4 a 2, sentido, ao final, o gosto da vitória que escapou das mãos paranistas.

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